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quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

PCC prepara ataques para Copa e eleições e PM entra em alerta

Por Agência Estado

Novas ordens do crime surgiram depois de a defesa de criminosos acessar detalhes de megainvestigação do MP

Agência Estado
O Primeiro Comando da Capital (PCC) prepara novos ataques caso a cúpula seja transferida para o Regime Disciplinar Diferenciado (RDD) da Penitenciária de Presidente Bernardes, no interior de São Paulo. Diante das novas ameaças do bando, o comandante-geral da Polícia Militar, coronel Benedito Roberto Meira, pôs a corporação em estado de alerta. 
As ameaças da facção se estendem a 2014, quando os bandidos prometem uma "Copa do Mundo do terror" e ataques nas eleições. Os planos dos criminosos foram interceptados em telefonemas recentes flagrados pela inteligência da polícia. Os bandidos afirmam que vão fazer uma greve branca nos presídios se a liderança do PCC for transferida para o RDD. Também dizem que, em caso de reação do governo paulista à greve, criminosos nas ruas vão atacar.
"Passei uma mensagem aos meus homens para que eles redobrem a atenção no atendimento das ocorrências, quando estacionam os carros e no caminho para casa", afirmou Meira. Em 2012, depois de a facção ordenar ataques a policiais, 106 PMs foram assassinados.

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As novas ordens do crime surgiram depois de a defesa de criminosos como Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, o chefão do PCC, ter acesso aos detalhes da megainvestigação realizada por três anos contra o crime organizado. Grande parte do mapeamento das ações do PCC foi feito com a colaboração de policiais militares.
As orientações saíram por meio de telefonemas dados pelos líderes que estão na Penitenciária 2 de Presidente Venceslau, no oeste paulista. "O clima é muito tenso na região. Eles estão transmitindo as ordens pelos celulares porque querem que a gente saiba", afirmou um dos 23 promotores dos Grupos de Atuação Especial e Repressão ao Crime Organizado (Gaecos) do Estado que assinaram a denúncia contra os 175 acusados de pertencem à organização criminosa.

A inteligência policial verificou também que o bando tomou precauções para o caso de toda a cúpula ser isolada no RDD de Presidente Bernardes. Marcola e os demais integrantes da Sintonia Final Geral escolheram substitutos que devem assumir os negócios da organização criminosa. Tudo isso para que o tráfico de drogas não seja prejudicado.

Durante a greve branca, os líderes do PCC querem impedir a inclusão de novos detentos na cadeia. Pretendem se recusar a serem fechados nas celas, ficando livres nos pátios. Também paralisariam o trabalho nas prisões onde existem oficiais. Em caso de intervenção do Grupo de Intervenção Rápida (GIR), da Secretaria da Administração Penitenciária (SAP) ou da Tropa de Choque, os detentos da facção pretendem começar atentados nas ruas. De acordo com a inteligência policial, funcionários dos presídios também foram informados por presidiários sobre as supostas intenções da facção. O conteúdo dessas novas escutas não faz parte da denúncia apresentada pelos promotores.

Pressão
As ameaças do crime organizado contra o Estado surgem no momento em que o Poder Judiciário analisa dois recursos apresentados pelo Ministério Público Estadual (MPE) contra as decisões de juízes que negaram a transferência da cúpula da facção para o RDD e a decretação da prisão de todos os 175 acusados - 16 deles tiveram a denúncia rejeitada.

Na semana passada, um dos promotores do caso relatou no Gabinete de Gestão Integrada (GGI), no Comando Militar do Sudeste, do Exército, a ameaça feita pelo PCC para os eventos de 2014. A expansão das atividades da facção criaria novos riscos. "A facção sabe que teremos muitos turistas aqui durante a Copa", afirmou o promotor.

Menores usam regras do PCC para dominar 'cadeias’ da Fundação Casa


Por Renan Truffi - iG São Paulo

Adolescentes reproduzem hierarquia da facção criminosa e tomam controle das atividades diárias nas unidades

Orientados por membros do Primeiro Comando da Capital (PCC), menores infratores que cumprem medidas socioeducativas no Estado de São Paulo instauraram uma estrutura de funcionamento típica da facção criminosa em algumas das 148 unidades da Fundação Centro de Atendimento Socioeducativo ao Adolescente (Casa). As internações onde esse sistema funciona são conhecidas como “cadeias dominadas”, já que estão sob controle dos menores. Isso significa que todas as ações do cotidiano no ambiente de internação são executadas pelos próprios adolescentes. Com isso, segundo funcionários da Fundação Casa ouvidos pelo iG, os menores têm cargos definidos por eles mesmos e decidem, inclusive, até onde os agentes de pátio podem fazer o monitoramento das unidades. Para isso, os menores usam uma espécie de código de ética do PCC. O exemplo mais conhecido dessa prática é a “Reza do PCC”, como é chamado o ritual no qual os menores pedem proteção a Deus e repetem o lema da facção criminosa. De acordo com um agente que trabalha na instituição há pelo menos 5 anos e que prefere não se identificar com receio de represálias, as unidades que estariam nas mãos dos adolescentes atualmente são as dos complexo Raposo Tavares, Itaquera, Vila Maria, Franco da Rocha, Lins e Iaras.
“A Fundação Casa é totalmente maquiada. Existem poucas unidades que estão de acordo. Quando eles fazem a reza do PCC, nenhum servidor pode ficar próximo, tem que ficar fora do perímetro. Se ficarem para dentro da área determinada, os funcionários são colocados para fora”, explica um agente. Os jovens têm inclusive postos de liderança com nomes iguais ou semelhantes aos usados pelo PCC: setor da limpeza (o cargo mais baixo hierarquicamente), setor da boia, setor do esporte, faxina, disciplina, toque da cadeia e toque geral (o mais alto).


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“Disciplina do Comando”, como são conhecidas as regras passadas pela facção criminosa, orienta a conduta dos menores

Essa influência não foi estabelecida de uma hora para outra. Divulgado neste ano, um estudo desenvolvido pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo (USP) mostra que os menores escutam os “monstros”, como são chamados os integrantes do PCC, há algum tempo. Autor da pesquisa Cadeias dominadas: dinâmicas de uma instituição em trajetórias de jovens internos, o antropólogo Fábio Mallart atuou como educador cultural de fotografia em diversos complexos da Fundação Casa entre 2004 e 2009 e presenciou esse processo.
“Antes de tomarem decisões importantes como, por exemplo, de ‘ir pro arrebento’ (o mesmo que dar início a uma rebelião), as lideranças, sempre que possível, entram em contato com os ‘irmãos do Comando’. Apesar dos adolescentes seguirem as orientações transmitidas pelos integrantes do ‘Partido’, nota-se que tais internos não são filiados ao Primeiro Comando da Capital, isto é, não são ‘batizados’, portanto não são reconhecidos como ‘irmãos’”, explica Mallart no estudo. Rotina Uma “cadeia dominada” representa outras diferenças no cotidiano dos jovens, além da consulta sobre motins. Em algumas dessas unidades, mandamentos mínimos do regimento interno não são respeitados, como, por exemplo, o fechamento dos quartos depois das 22h. As luzes até são apagadas, mas os dormitórios ficam abertos, segundo agentes de medidas socioeducativas. Há ainda os servidores que reclamam da entrada de celulares na instituição e do cheiro de maconha que toma os ambientes. Mais: Alckmin anuncia grupo especial para investigar denúncias sobre PCC "Não vamos nos intimidar", diz Alckmin sobre ameaça de morte do PCC
Já a “disciplina do Comando”, como são conhecidas as regras passadas pela facção criminosa, orienta a conduta dos menores. Não se masturbar, não andar sem “coruja”, como é chamada a cueca, nem andar sem camiseta são as regras básicas para os dias de visita. Agora para manter a paz dos internos em dias comuns, os adolescentes não devem agredir o companheiro de “caminhada” e nem matar sem a permissão dos “irmãos”. Essa disseminação dos códigos e da estrutura do PCC no sistema faz com que frequentemente, segundo fontes do iG, a Superintendência de Segurança e Disciplina (Supsed) tenha que acionar equipes para “tomar” o controle “da cadeia” dos adolescentes. Esta é uma das funções, por exemplo, da GSO (Gerência de Suporte Operacional). Outra tática de resposta do governo do Estado é a de transferir internos identificados como líderes para outras unidades. O problema é que os adolescentes se reorganizam rapidamente, como explica Mallart na dissertação. “Os atores sociais transitam, apenas vão e vêm, os postos permanecem.” Isso faz com que esse processo de “tomada da casa” aconteça três ou quatro vezes em apenas um ano na mesma unidade. A disputa pelo poder das instituições leva ainda a outra particularidade da Fundação Casa. É o caso das casas onde o controle é compartilhado. Esses ambientes de internação são chamados de “meio a meio”, porque há um equilíbrio de forças entre internos e servidores. “A gente finge que manda e eles fingem que obedecem”, resume um agente. Status ou batismo Apesar da influência do PCC no comportamento dos adolescentes da Fundação Casa, os diversos atores que têm contato constante com estes menores infratores divergem sobre qual realmente é a ligação dos jovens com a facção criminosa. O promotor de Justiça Thales Cezar de Oliveira, da Vara da Infância e Juventude de São Paulo, acredita que os integrantes do grupo de fato “usem” os jovens que estão dentro da Fundação Casa, como denunciados por funcionários da instituição, mas vê essa ligação também como uma questão de status. O promotor foi quem, inclusive, teve acesso a uma carta, cerca de dois anos atrás, que falava na existência de um "PCC Mirim" na Fundação Casa. Ele, no entanto, pensa que o episódio foi apenas uma forma isolada dos internos de dar nomenclatura a essa estrutura que contaminou o sistema socioeducativo em São Paulo. “Em um determinado momento virou questão de status aderir ao PCC. Isso faz com que eles se sintam mais perigosos, mais respeitados”, afirma Oliveira. Já um agente de medidas socioeducativas, que convive com os menores diariamente, afirma que alguns passaram pelo tradicional batismo e são, sim, integrantes do PCC. “Realmente nós temos membros mirins do PCC. Nós temos informações que confirmam a participação desses jovens na facção. Eles acabam intimidando os servidores. Muitos são ameaçados e agredidos. Essa é uma das razões para 10% da categoria (de servidores) estar afastada das funções”, argumenta. A crítica a atual gestão da Fundação Casa, por adotar medidas para menores infratores que reproduzem uma lógica de funcionamento parecida com a do sistema prisional adulto, é recorrente. Mallart lembra, por exemplo, que diversos funcionários que já haviam trabalhado na Secretaria de Administração Penitenciária (SAP) e no próprio Sistema Penitenciário do Estado foram nomeados para cargos na Fundação Casa na época do extinção da Fundação Estadual para o Bem Estar do Menor (Febem). “Se olharmos a dinâmica de funcionamento das cadeias dominadas, bem como para medidas adotadas pelo governo estadual, nos damos conta de que a redução da maioridade penal, em certa medida, já foi colocada em prática”, afirma. Outro lado A assessoria de imprensa da Fundação Casa nega que suas unidades sejam “dominadas pelos adolescentes que cumprem medida socioeducativa na instituição e muito menos reprimidos por qualquer organização criminosa”. O órgão também afirma que a situação presenciada pelo autor do estudo não é mais a mesma. “Com relação ao estudo feito em 2005, à época da antiga Febem, pelo Fábio Mallart, é interessante ressaltar que muitos anos já se passaram e que a Fundação CASA não só mudou de nome. Hoje, cumprindo integralmente o que está previsto ECA e no Sinase, entre às 6h e às 22h, os adolescentes são inseridos em atividades de escolarização formal, esporte, cultura, educação profissional, além do atendimento de psicólogos e de assistentes sociais. Fora isso, os jovens também participam do Programa de Assistência Religioso”, explica em nota. Leia a nota na íntegra: "A Assessoria de Imprensa da Fundação CASA esclarece que os centros e, principalmente os citados pelo Portal IG, não são dominados pelos adolescentes que cumprem medida socioeducativa na Instituição e muito menos reprimidos por qualquer organização criminosa.
Com relação ao estudo feito em 2005, à época da antiga Febem, pelo Fábio Mallart, é interessante ressaltar que muitos anos já se passaram e que a Fundação CASA não só mudou de nome. Hoje, cumprindo integralmente o que está previsto ECA e no Sinase, entre às 6h e às 22h, os adolescentes são inseridos em atividades de escolarização formal, esporte, cultura, educação profissional, além do atendimento de psicólogos e de assistentes sociais. Fora isso, os jovens também participam do Programa de Assistência Religios
Desde 2006, construíram-se 67 novos centros em todo o Estado, no total de 149. Antes existiam 86 unidades e 82% dos jovens estavam na Capital, contra 18% no Interior. Hoje a CASA inverteu o quadro, com 38,4% na Capital e 61,6% no interior, Grande São Paulo e Litoral. O adolescente é atendido próximo de sua família e tem todos os seus direitos garantidos pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e pelo Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (Sinase), o que facilita a sua ressocialização.
Outros avanços estruturais e operacionais são visíveis. Houve reformulação pedagógica tanto para jovens quanto para servidores. Os adolescentes contam com atividades de escolarização formal, esporte, cultura e educação profissional básica, além do atendimento psicossocial e de saúde. Os funcionários novos e antigos passam por capacitação pela Escola para a Formação e Capacitação Profissional (EFCP), preparando-os à nova proposta de trabalho, que prega o atendimento individualizado aos jovens, o respeito aos direitos humanos e a abertura à sociedade.
Nesse período, o número de rebeliões caiu drasticamente no Estado. Em 2003, a antiga FEBEM contabilizou um recorde de 80 rebeliões para um número de 80 unidades. A partir de 2006 esse número começou a despencar para 28 rebeliões. Em 2012, houve seis. Em 2013, oito rebeliões – para 148 centros. A Fundação CASA também reduziu o índice de reincidência, de 29%, em 2006, para 13,5 %, em 2013. Provas autênticas que as mudanças surtiram sim os efeitos esperados.
Em 2011, o relatório publicado pelo CNJ considerou a Fundação CASA como modelo para o País. O documento, fruto das visitas do Programa Justiça ao Jovem, apontou grandes avanços em comparação à antiga Febem. “A constatação é de que a decisão política tomada pelo Poder Executivo do Estado de São Paulo ao extinguir a FEBEM realmente reverteu em melhoria substancial, traduzindo-se em modelo que pode inspirar mudanças positivas em outros estados da federação”, afirmou o CNJ.
O relatório “Um Olhar mais Atento às Unidades de Internação e Semiliberdade para Adolescentes”, divulgado pelo Conselho Nacional do Ministério Público em 8 de agosto de 2013, indicou que São Paulo é o Estado com o maior número de centros em condições salubres para o atendimento do adolescente autor de ato infracional, com 91,3%, enquanto a média da região Sudeste, a maior no Brasil, é de 77,5%. Em relação à estrutura de salas de aulas e condições para ensino formal, profissionalização e prática esportiva, o documento indicou que 82,9% das unidades possuem salas equipadas, iluminadas e adequadas; 77,5% contam com espaços condizentes para a educação profissional básica; e 85,3% têm estrutura para atividades de esporte.
Portanto, a Fundação CASA trabalha diariamente para não converter-se numa nova Febem e tem tido reconhecimento de seu trabalho por aqueles que a acompanham diuturnamente."

OAB discute poder de facções e ouve agentes penitenciários

http://www.oab.org.br
Brasília – Durante reunião de posse e início das atividades da Coordenação de Acompanhamento do Sistema Carcerário da OAB, ocorrida na tarde de terça-feira (4), a Ordem suscitou o debate em torno de um dos temas mais importantes ligados à questão penitenciária: o nível de poder das facções dentro e fora dos presídios. O mediador da atividade foi o vice-presidente do Conselho Federal da OAB, Claudio Lamachia.
Ricardo Breier, secretário-geral da OAB-RS e membro da Coordenação de Acompanhamento do Sistema Carcerário, criticou a inércia dos governos estaduais. “Há uma clara ausência de ações efetivas nos estados. É a consequência dás más gestões nos presídios, que tanto é reflexo como também se reflete na violência que assola a sociedade. Estamos, infelizmente, diante de um ciclo. O pior desdobramento disso tudo é assustador: quem determina as regras gerais são as facções. São economicamente fortes, comandam e corrompem leis”, disse.
Breier sugeriu transparência por parte das autoridades governamentais estaduais. “ É urgente a necessidade de cada estado divulgar quais grupos e facções agem em cada presídio do seu território. Porque garanto que o sistema penitenciário estadual tem essa informação. Se políticas públicas não forem implantadas com urgência, estaremos num colapso ainda mais agudo”, alertou.
Maíra Fernandes, membro da Coordenação de Acompanhamento do Sistema Carcerário da OAB e do Fórum de Conselhos Penitenciários, crê que a situação chegou ao limite. “É impossível imaginarmos que pode piorar. Mas a realidade é que pode. Queremos o fim imediato dos massacres nos presídios, afinal, os detentos foram condenados à pena de prisão e não de morte. Mas apesar de perceber que os presos continuam mandando no sistema, eu já consigo enxergar uma queda de poder das facções”, opinou.
Visão dos agentes
De posse da palavra, José Roberto Neves, presidente do Sindicato dos Agentes Penitenciários do Paraná (Sindarspen-PR), agradeceu ao convite do Conselho Federal da OAB. “Nosso maior diagnóstico no Paraná foi feito em conjunto com a Comissão de Direitos Humanos da OAB paranaense. Com base nos resultados e na nossa vivência, afirmo que o caso de Pedrinhas (MA) foi só o estopim de uma longa história em todo o Brasil”, disse.
Fernando Anunciação, oficial penitenciário e presidente da Federação Nacional dos Servidores Penitenciários (Fenaspen), aponta a terceirização da mão de obra como a maior falha nos presídios. “É vergonhoso, inadmissível colocar uma empresa de vigilância para administrar o sistema penitenciário. Nada contra o vigilante, mas o preparo dele não é específico para essa lida. Os senhores, advogados, sabem o tamanho da especialização necessária para trabalhar no universo prisional”, criticou.
O membro da Coordenação de Acompanhamento do Sistema Carcerário e conselheiro Gilvan Vitorino (OAB-ES),  e a presidente da Comissão do Sistema Penitenciário da OAB-TO, Ester Nogueira, também contribuíram com o debate levando ao plenário relatórios detalhados da situação carcerária em seus estados de origem.
Confira aqui a galeria de imagens.

Presídio tem galinhas e gatos para combater insetos e ratos



A situação precária de um presídio superlotado em Jequié (366 km de Salvador) levou o governo estadual a colocar entre os 857 internos ao menos 14 galinhas e cerca de 50 gatos para combater escorpiões, baratas e ratos que se proliferam no local.
Segundo a direção da unidade prisional, cujo número de presos ultrapassa quase em três vezes a capacidade (368 detentos), as galinhas e gatos ficam espalhados nos pavilhões, junto com os internos. E onde comem, fazem as necessidades fisiológicas.
Segundo a Defensoria Pública da Bahia, que há dois anos tornou pública a situação do presídio, a proliferação se insetos na unidade se dá pela falta de limpeza da rede de esgoto.
“Falta cochão, vigilantes, agentes, policiais…”, afirmou a defensora pública Yana Araújo.
Para a defensora, a situação estrutural do presídio é precária, pois há infiltrações, rachaduras, insuficiência de alimentos inexistência de sistemas de alarme, falta d’água, cobertores, dentre outros problemas.
Os problemas do presídio foram relatados numa ação judicial, na qual a Defensoria Pública pediu a proibição da transferência, para Jequié, de detentos da vizinha Vitória da Conquista (328 km de Salvador). O pedido foi acatado pela Justiça no dia 30 do mês passado.

Situação parecida

Também superlotado, com 259 presos, quando a capacidade é para 137, o presídio de Vitória da Conquista foi interditado parcialmente pela Justiça, mês passado, e impedido de receber novos presos, devido a situação também precária. A interdição ocorreu no módulo I.
No local também falta água, colchão, a alimentação, segundo os presos, é ruim, e o convívio com insetos como escorpiões e baratas, é corriqueiro.
Numa visita de inspeção, dia 15 de janeiro, o juiz de Execuções Penais, Reno Soares, afirmou que no presídio de Vitória da Conquista não daria nem para criar porcos.
Se fosse fazer isso, disse o juiz, “era capaz de fazer a Vigilância Sanitária vir aqui e nos multar, dizendo que aqui a gente não tinha condição de criar animais”.

Sem resposta

A Seap (Secretaria de Administração Penitenciária da Bahia) ficou de enviar ao UOL respostas sobre os problemas nos presídios de Jequié e Vitória da Conquista, mas isso não ocorreu.
Em 15 de janeiro deste ano, o governo divulgou que o sistema prisional baiano terá mais 3.822 vagas, que serão disponibilizadas em Vitória da Conquista, Salvador, Itabuna, Barreiras, Irecê, Brumado, Paulo Afonso e Juazeiro.
O investimento previsto na abertura de novas vagas é de cerca de R$ 150 milhões. Atualmente, a população prisional da Bahia é de 12.300 pessoas, para 9.000 vagas.
Com as novas 3.822 vagas, o deficit de espaço nos presídios será superado, restando ainda 522 vagas, que, segundo o governo, serão preenchidas com parte dos presos em delegacias.
Desde 2007, foram criadas 3.070 vagas em Salvador, Feira de Santana (contando com a segunda etapa a ser entregue), Eunápolis, Itabuna e mais cinco minipresídios. Com as novas vagas, a capacidade de detentos nos presídios baianos chegará a 6.892, de acordo com a divulgação oficial.

Maioria dos Estados omite dados sobre presídios do País

Por Renan Truffi - iG São Paulo
Trabalho do Grupo de Estudos Carcerários Aplicados da USP revela que Brasil vive ‘buraco negro’ de informação sobre as cadeias
Apesar de estar previsto na Lei de Acesso à Informação desde 2012, pelo menos 16 estados brasileiros ainda não têm ou não disponibilizam de maneira completa informações e dados referentes ao sistema prisional do País. A conclusão é de um estudo feito pelo Grupo de Estudos Carcerários Aplicados da Universidade de São Paulo (GECAP-USP), que analisou os sites de todos os governos estaduais. O cenário encontrado é de um “verdadeiro buraco negro” de informações sobre a situação nas cadeias brasileiras e ajuda a explicar o caos que veio à tona recentemente no Maranhão.
O presídio de Alcaçuz, no Rio Grande do Norte, que registrou caso de canibalismo durante o ano e é alvo de investigação de pagamento de propina. Foto: Agência Brasil
“A não disponibilização das informações faz desta questão um verdadeiro buraco negro, um verdadeiro vácuo. (É importante) para o cidadão comum saber como é que está sendo o trato com a questão prisional. (...) Eu acho que esta falta de transparência é uma das causas da (crise carcerária)”, explica Cláudio do Prado Amaral, coordenador da pesquisa e professor da Faculdade de Direito de Ribeirão Preto da USP.
O estudo Sistema prisional e lei de acesso à informação investigou quais Estados possuíam site oficial com o objetivo de disponibilizar dados do sistema prisional pela internet. Segundo o levantamento, os casos mais graves são do Acre, Piauí, Rondônia e Tocantins. Os quatro não têm nenhuma das informações tidas como básicas pelo GECAP: número de presos e de vagas conforme o regime prisional (definitivo ou provisório), tipo de delito, idade, sexo, quantidade de presos em tratamento de saúde, ou até o número de presidiárias que permanecem com os filhos durante o período de amamentação.
O levantamento procurou seguir o trecho da legislação que diz que as informações devem ser divulgadas “em local de fácil acesso”. Por isso, foram selecionados 27 voluntários de nível médio e universitário incompleto – para testar como seria se um cidadão comum buscasse os dados – e cada um deles ficou responsável por tentar encontrar os números de um Estado brasileiro no Google por meio de três expressões básicas “sistema prisional”, “sistema penitenciário” ou “sistema carcerário” junto do nome do Estado.
Já os critérios estabelecidos foram que todos os convidados deveriam usar no máximo cinco cliques para se chegar ao site, respeitado o limite de até três páginas do site de busca, conforme recomendado em pesquisas. O resultado foi que, dentre os Estados que têm algum tipo de site oficial para informar sobre o sistema prisional, somente 12 atendem ao critério de disponibilizar de forma fácil: Alagoas, Bahia, Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Santa Catarina e São Paulo.
Falta de controle desestimula juízes e inibe aplicação de penas alternativas
Já Rio Grande do Sul, Mato Grosso, Sergipe, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, Distrito Federal, Pará, Amazonas, Roraima e Amapá publicam na web algum tipo de estatística ou orientação sobre a política carcerária do governo no site oficial, mas não se preocuparam em disponibilizar isso de forma simples e fácil de encontrar.

“Acho que não é má fé (dos responsáveis). Refleti bastante e acho que é falta de conhecimento, falta de estar atento a isso. Como a questão é muito grave, a impressão que nós temos é que que o Estado está sempre apagando incêndio e não tem tempo para alimentar o sistema público com os dados. O Estado faz isso com relação à educação, à habitação, por que não faz com relação ao sistema penitenciário? Se não for a mais, essa é uma das áreas mais sofríveis. Os governos estão se se ocupando de outras atividade e não têm essa percepção de que a informação disponibilizada com qualidade é uma alavanca para a melhora da questão prisional”, explica Amaral.
Os únicos Estados que conseguem chegar perto do que se considera ideal pelos especialistas são Alagoas, Rio Grande do Sul e São Paulo. “Apesar de também ter problemas, Alagoas tem um presídio modelo. Eu viajo o Brasil inteiro para visitar os presídios. Lá todos os presos estão alocados em trabalho. Eles saem e voltam para a cadeia. Eles comem com talheres de metal e prato de vidro. É um dos modelos prisionais. (...) Então o que a gente sabe e pode informar é que não se trata de um problema de recursos financeiros. É uma questão de gestão”, defende.
Outro lado
O iG procurou as assessorias de imprensa dos Estados, mas não conseguiu localizar os responsáveis pela situação no Piauí e Acre. A assessoria de imprensa do governo de Rondônia ficou de analisar o estudo para responder à reportagem, mas não o fez. Já o departamento de comunicação do governo de Tocantins contestou o resultado do levantamento e passou um link com algumas informações, como, por exemplo, número de presos provisórios e definitivos do Estado. Mas também ficou de enviar um comunicado que não chegou até o fechamento desta matéria

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